Todo mundo vai se lembrar daquele sábado, dia 8, quando uma notícia entrou no Jornal Sempre Nova Lima pela primeira vez naquela manhã. Havíamos recebido um alerta do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais sobre o atendimento a uma ocorrência na BR-040 para um rompimento de barragens. O Sempre é o maior portal de notícias do município e o lamaçal que invadia a rodovia federal, de fato dava a entender que era um momento de rompimento da estrutura da Vallourec.
Alguns minutos depois, obtivemos a primeira informação da Defesa Civil Municipal que não se tratava de um rompimento e sim um transbordamento do sistema de drenagem da barragem da Mina do Pau Branco. Mesmo assim, mantivemos o título da matéria e apenas adicionamos ao texto que poderia ser apenas um transbordamento. A nossa responsabilidade com Nova Lima é muito forte, se mudássemos a matéria e de fato fosse um rompimento, isso poderia custar vidas – não é de domínio público o alcance do rejeito e em quanto tempo toda a lama atingiria casas.
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Contudo, mais alguns minutos e a Defesa Civil voltou a dizer que era apenas um transbordamento do dique, a Vallourec se posicionou e os Bombeiros confirmaram o não rompimento. Mas, se não foi um rompimento, chegou próximo de ser. O diretor da Agência Nacional de Mineração (ANM), Guilherme Gomes, deu uma entrevista impressionante à Rádio Itatiaia no domingo, dia 9. Ele acompanhou o transbordamento do dique da barragem da Vallourec, em Nova Lima, na Mina de Pau Branco.
“A barragem estava quase rompendo. Quase rompendo mesmo. Começamos a demandar a Vallourec para descer máquinas. Se continuasse da forma que estava, ia romper porque a água estava passando por cima”, disse ele à rádio.
Desta vez o ex-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas), deu uma outra declaração bombástica. Na sua opinião, a barragem da Vallourec se rompeu naquele fatídico sábado:
“A barragem que rompeu em Nova Lima, aquilo não foi um transbordamento, nem estava no nosso radar, porque ela não estava classificada como de risco”, disse Marcus Poligano, que esteve a frente do comitê entre 2013 e 2020. Ele concedeu a entrevista ao Brasil de Fato e falou sobre outros problemas, como a ausência de informações sobre a saúde das estruturas.
“Isso mostra que a gente não tem informações claras e seguras para dizer como está a situação. Isso deixa a gente realmente sempre apreensivo. Não dá para entender como a gente pode conviver com uma política pública que submeta a população a tal dano, a tal risco e terror. E o Estado ausente nesse processo, sempre joga a bola para a Agência Nacional de Mineração, que tem meia dúzia de técnicos para fazer vistoria em mais de 400 barragens. Na verdade, o sistema de fiscalização de barragens está falido”, declarou Poligano.
O agora coordenador do Projeto Manuelzão da Universidade Federal de Minas Gerai, ainda falou sobre o risco que a captação do sistema de Bela Fama, em Honório Bicalho, na cidade de Nova Lima, que abastece mais de 5 milhões de pessoas na Região Metropolitana de Belo Horizonte e também a capital, passa todos os dias porque tem pelo menos 11 barragens e com sete delas em situação de rompimento podendo atingir o Rio das Velhas.
“As barragens colocam em risco a nossa segurança hídrica: Bela Fama responde por 40% do abastecimento total da Grande BH”, disse ele que complementou:
“Neste momento, estamos com os reservatórios de Bela Fama, Rio Manso e Vargem das Flores 100% carregados. O Rio das Velhas está no seu melhor momento. Mas nós temos uma situação de inquietação em relação à questão dos barramentos, porque elas colocam em risco a nossa segurança hídrica. Belo Horizonte é abastecida em mais de 50% com a água que vem do Rio das Velhas. Se alguma das barragens romper irá inviabilizar a utilização da água. É um quadro caótico e imprevisível, não dá para pensar uma capital sem uma fonte de abastecimento. Por isso a gente vem cobrando, durante esse tempo todo, atitudes mais incisivas por parte do poder público, especialmente estadual”, disse.
As mineradoras continuam atestando a estabilidade de suas barragens.
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