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Ao incluir a data em homenagem ao líder quilombola Zumbi dos Palmares, o Estado Brasileiro não cria um feriado nacional meramente para comemorar sua luta.  Trata-se de inserir no calendário oficial, o compromisso com a agenda de reparação do Brasil com sua história.

O Movimento Negro, protagonista na elaboração da CF 1988, insere à institucionalidade, a relação de pertencimento do Estado com seu povo. Um Estado de dupla natureza, de garantias de direitos e implementação de políticas públicas de um lado e do monopólio da violência, do outro. O Estado é o resultado e o espelho dos conflitos de uma sociedade, da diversidade cultural que estrutura as relaçõesde troca, variando entre materiais e simbólicas, afetivas ou lingüísticas, mais ou menos democráticas e mais ou menos inclusivas.

Nesse sentido, as comemorações alusivas a data inscrevem em parte importante das relações coletivas, a necessidade de incorporar valores civilizatórios negros como parte contributiva, logo, constitutiva da nação brasileira. Os avanços e resultados cominam na data. Todavia, é processo de construção, da travessia do Atlântico até os dias de hoje. Ressignificar a memória como Patrimônio Nacional em um país que tem apego ao esquecimento, não é apenas um mecanismo para resistir é, sobretudo, uma estratégia na garantia de re (existir).

Muito foi pavimentado pelos mineiros nas escavações compulsórias nas minas e nas gerais. O legado daqueles que construíram, se materializa na presença ainda tímida,de médicas, professoras, intelectuais e lideranças negras que democratizam os espaços de representações sociais. Fortalecendo a cultura como vetor econômico, responsávelpela diversidade compartilhada e profissionalismoconsagrado, marcas indeléveis da identidade negra brasileira.

A festa, o feriado é para comemorar, apontando um presente possível de uma sociedade que ainda precisa identificar no mapa, a localização no tempo, na memória e na história.

Ana Lúcia, autora do texto

Ana Lúcia da Silva, Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras, Especialista em Gestão Pública pela universidade UNICAMP e Mestre em Ciências Sociais pela Faculdade FLACSO/BRASIL.

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