De: Agência Reuters

Os produtos químicos que provocaram a maior explosão em tempos de paz em Beirute chegaram à cidade há sete anos a bordo de um navio de carga de propriedade de um empresário russo que, segundo seu capitão, nunca deveria ter parado na capital libanesa. Capitão Boris Prokoshev a bordo do navio Rhosus no porto de Beirute Foto de 2014 REUTERS/Arquivo pessoal de Boris Musinchak

“Eles estavam sendo gananciosos”, afirmou Boris Prokoshev, que era o capitão do navio Rhosus em 2013, quando, segundo ele, o proprietário da embarcação lhe disse para fazer uma parada não programada no Líbano para pegar carga extra. 

Prokoshev contou que o navio transportava 2.750 toneladas de produto químico altamente inflamável nitrato de amônio da Geórgia para Moçambique quando veio a ordem para desviar até Beirute no caminho pelo Mediterrâneo. 

Foi solicitado à tripulação que embarcasse um equipamento rodoviário pesado e o levasse ao porto de Aqaba, na Jordânia, antes de retomar sua jornada para a África, onde o nitrato de amônio deveria ser entregue a um fabricante de explosivos. 

Mas o navio nunca deixaria Beirute. Não houve sucesso em carregar com segurança a carga adicional, e depois se desenrolaria uma longa disputa legal sobre taxas portuárias. 

“Era impossível”, disse Prokoshev, de 70 anos, à Reuters sobre a operação para tentar carregar a carga extra. “Poderia ter arruinado todo o navio e eu disse que não”, afirmou ele por telefone, de sua casa na cidade russa de Sochi, na costa do Mar Negro. 

O capitão e os advogados de alguns credores acusaram o proprietário do navio de abandonar a embarcação e conseguiram que ele fosse detido. Meses depois, por razões de segurança, o nitrato de amônio foi descarregado do navio e colocado em um depósito portuário. 

Na terça-feira, o estoque pegou fogo e explodiu não muito longe de uma área residencial de Beirute. A enorme explosão matou ao menos 145 pessoas, feriu 5.000, arrasou prédios e deixou mais de 250 mil pessoas desabrigadas. 

NAUFRÁGIO 

O navio, que apresentava vazamentos, poderia ter deixado Beirute se tivesse conseguido carregar a carga adicional. 

O capitão e três tripulantes passaram 11 meses na embarcação enquanto a disputa judicial se arrastava, sem salários e com apenas suprimentos limitados de comida. Depois que eles saíram, o nitrato de amônio foi descarregado. 

“A carga era altamente explosiva. É por isso que foi mantida a bordo quando estávamos lá… O nitrato de amônio tinha uma concentração muito alta”, disse Prokoshev. 

Prokoshev identificou o proprietário do navio como o empresário russo Igor Grechushkin. Tentativas de contato com Grechushkin foram infrutíferas. 

A polícia do Chipre interrogou Grechushkin em sua casa no país nesta quinta-feira, disse uma fonte de segurança. Um porta-voz da polícia cipriota disse que um indivíduo, a quem ele não mencionou, foi interrogado a pedido da Interpol em relação à carga de Beirute. 

As primeiras investigações libanesas sobre o que aconteceu apontaram para negligência no manuseio do produto químico potencialmente perigoso. 

O governo do Líbano concordou na quarta-feira em colocar todos os funcionários portuários de Beirute que supervisionam armazenamento e segurança desde 2014 em prisão domiciliar, disseram fontes ministeriais. 

O chefe do porto de Beirute e o chefe da alfândega disseram que várias cartas foram enviadas ao Judiciário pedindo que o material fosse removido, mas nenhuma ação foi tomada. 

A Reuters não pôde entrar em contato imediatamente com o ministro da Justiça do Líbano para comentar. O Ministério da Justiça está fechado por três dias de luto nacional. 

O navio Rhosus naufragou no local onde estava ancorado no porto de Beirute, de acordo com um e-mail de maio de 2018 de um advogado para Prokoshev, dizendo que a embarcação havia submergido “recentemente”.

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