O dia 15 de maio entrou para a história na luta pela Educação no nosso país. Diversos setores se reuniram em multidão nas ruas pelo Brasil afora. Motivados pelos cortes de quase 25% nas verbas discricionárias no Ministério da Educação, professores, alunos e militantes transformaram as avenidas numa grande sala de aula.
Para entender esse episódio é preciso uma análise honesta das pautas educacionais que o Brasil discutia nas últimas décadas para entender que, definitivamente, o governo federal trata com miudeza, falta de estratégia e desinteresse essa importante pasta.
Existiu um período no Brasil em que havia uma grande convergência nacional de entendimento de que a elevação dos níveis e investimentos na área da educação seria uma das molas propulsoras para o desenvolvimento do país, para a diminuição das desigualdades e para geração de oportunidades cada vez mais isonômicas. Discutia-se os investimentos de 10% do PIB para a educação, o Plano Nacional de Educação, o aumento do número de vagas em creches e pré-escolas, o avanço das políticas de inserção de jovens e adultos, a diminuição da evasão escolar, o acesso a jovens pobres e negros nas universidades, a democratização do acesso a cursos técnicos, os percentuais dos valores investidos em relação a descoberta do pré-sal para o desenvolvimento e financiamento da educação nacional, o FUNDEB (Fundo Nacional da Educação Básica), o piso nacional dos professores, a universalização do acesso a educação básica, enfim, diversas políticas que significaram o investimento quase quatro vezes maior do aquele que se investia no início dos anos 2000.
Agora o debate é outro. Passamos os últimos três anos reafirmando a importância e a necessidade de um currículo que contemplasse as ciências humanas, a filosofia, sociologia, as artes e a educação física contra uma retórica que defendia a exclusão dessas disciplinas. Vamos encarar um profundo debate acerca da terceirização na rede pública de ensino, salários e gratificação natalina atrasados, cortes de investimentos na área da educação a pretexto de uma tal balbúrdia que, talvez uma pessoa mais desatenta até acredite que exista, diante de tantas fotos fakes que circulam nas redes e da generalização de situações que, certamente, não são predominantes em nossas universidades.
Debatemos os ataques aos legados e a história de Paulo Freire, patrono da educação brasileira, baluarte da ideia de que a educação deve servir para a liberdade no seu mais amplo sentido, recebemos orientações para filmar os jovens cantando o hino nacional nos pátios numa carta que encerrava-se com o famoso slogan ainda da campanha presidencial – Brasil acima de tudo, Deus acima de todos – numa nítida tentativa de jogar goela abaixo das escolas a ideologia que saiu vencedora nas últimas eleições. E pasmem, em meio a tudo isso, debatemos também a proposta da Escola Sem Partido, que de sem partido não tem nada.
É verdade também que mesmo com tantos esforços de outrora e com o tumulto de agora, mesmo com tanta gente nas escolas, isso não significou, necessariamente, um aprendizado de qualidade. Não precisa ser nenhum estatístico para perceber que as notas e o desempenhos dos alunos brasileiros, em geral, são fracos. Nosso desafio de presente e de futuro é dar qualidade a valiosa expansão quantitativa que se observou nos últimos anos, em todas as áreas. Isso se faz com mais salário, um digno plano de carreira que atraia os melhores quadros nacionais para o magistério, infraestrutura das escolas, uma nova metodologia que atraia a atenção, a curiosidade e a criatividade das crianças e dos jovens para a consciência de que é preciso aplicar os conhecimentos teóricos para transformar sua realidade e resolver os problemas e criar alternativas que até hoje ninguém conseguiu criar. Nessa perspectiva não dá para imaginar corte de investimentos ou, como querem dizer, contingenciamento. Não da para insistir numa guerra ideológica na educação brasileira. Nosso problema não é esse!
Pra finalizar, é bom que o presidente entenda que não somos idiotas nem imbecis. Fazemos parte de uma maioria não privilegiada que tem, talvez como única alternativa de crescimento pessoal a educação, a formação, o aumento da escolaridade e, para isso, precisamos de uma educação pública de qualidade. Do contrário estaremos para sempre estagnados e condenados a uma vida sem perspectiva, e isso nós não queremos. Já a turma da balbúrdia, entenda presidente, são cientistas, pesquisadores, pessoas que inovam e dedicam uma vida inteira descobrindo curas para doenças, tecnologias revolucionárias, desenvolvendo métodos e práticas de relevância para as mais diversas áreas da humanidade contribuindo para a qualidade de vida das pessoas e o crescimento das regiões em que estão inseridas. Ainda da tempo de se retratar.
Deste imbecil, mas útil.
Pedro Henrique Dornas
Pedro Dornas, 27, é advogado especialista em direito público e professor da rede estadual de ensino. Militante nas áreas da educação, esporte e cultura, atualmente é o vice-presidente da Federação Mineira de Futsal.
** As opiniões contidas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião editorial do Portal Sempre Nova Lima
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