O nova-limense Gabriel Afonso é mais um cidadão da nossa cidade a fazer sucesso nas telinhas, não só brasileiras, mas pelo mundo. Ele que gravou um comercial na Colômbia e que está sendo veiculado no Caribe, falou com o Sempre Nova Lima sobre a gravação de um curta-metragem em que ele também participa. 

A propaganda em que Gabriel aparece está no final da entrevista. Perceba que já foi visualizado por mais de 2 mil pessoas e outras 450 curtiram.

Veja as respostas de Gabriel abaixo:

1) Gabriel, conte-nos mais sobre você. Em qual bairro de Nova Lima cresceu? Sua idade? Cor preferida? Sonhos?


Nasci e cresci no bairro dos Cristais, jogando bastante queimada e rouba-bandeira com as outras crianças da minha rua. Acabei de descobrir que não tenho uma cor preferida, mas chutaria azul, cor do céu, porque me acho uma pessoa bem solar. Sonhos eu tenho muitos, e venho buscando a realização de cada um deles.
2) Hoje você faz parte de um grupo especial de Nova Lima que aparece nas telinhas e que faz sucesso com famosos. Afinal, você pode ser uma inspiração para a juventude nova-limense que hoje vive no meio de uma violência crescente. O que tem para dizer a estes jovens?

Desde muito cedo eu escolhi o caminho da arte, ou arte me escolheu, não sei dizer ao certo. A questão é que quando você descobre algo que gosta de fazer e foca nesse objetivo, não sobra espaço na sua vida para se corromper. Então, por mais clichê que pareça, o segredo está em estudar, estudar, estudar e estudar, pois a gente nunca sabe quando uma grande oportunidade irá surgir.

3) Nova Lima não é, com certeza, uma cidade modelo culturalmente falando. Na sua opinião, o que é preciso fazer para enriquecer este lado em nosso município?

Sem sombra de dúvidas, reconhecer e apoiar os artistas locais. Isto vai desde os gestores, aos cidadãos. Vejo o teatro lotado em peças de artistas consagrados, com ingressos que nem sempre são baratos, e o teatro praticamente vazio em espetáculos de artistas locais com valores de ingressos super acessíveis, ou até mesmo gratuito.
4) Muito se critica as festas tradicionais em nossa cidade, já que o dispêndio da Prefeitura é grande e temos problemas com as contas públicas. Mas a diversidade musical e as nossas festas tradicionais também não são algo importante para a cultura? Ou seja, mesmo que a iniciativa privada faça as festas, não seria válido empreender neste assunto?

Eu entendo o lado de quem critica, é revoltante saber que uma cidade que já foi eleita a melhor cidade de Minas Gerais para se viver com base no IDH, consegue pecar quando se trata da administração financeira. Mas é de extrema importância movimentar e fortalecer a nossa cena cultural, que vem deixando de existir a cada ano. 

Que seja então por meio de iniciativa privada, mas só por enquanto, pois sou a favor das festas acessíveis à nossa população, não somente aos turistas.

5) Mudando de assunto do geral para o Gabriel: é verdade que está gravando cenas de um filme? Conte para o Sempre Nova Lima sobre isso.

Estou cursando o 6º período em Cinema e Audiovisual, e por iniciativa de um amigo, nos juntamos para gravar um curta-metragem independente. O filme se chama ”O Que Existe De Vivo No Mundo” e está passando agora pelo processo de montagem. 

O que mais me empolga neste projeto é fato de ter sido escrito e dirigido por um negro, protagonizado por atores negros, e grande parte dos integrantes da equipe também serem negros. Isso faz com que o filme atinja um caráter muito mais íntimo e representativo, pois somos nós, tratando de nossas vivências.

6) Sua última publicação no Facebook (até esta postagem), foi um vídeo no qual você participa de uma propaganda que será veiculada em outro país. Que país é este? Como foi fazer este trabalho?

Esta é a minha primeira campanha internacional. Foi gravada no final do ano passado na Colômbia, mas está sendo veiculada no Caribe. Foi incrível essa experiência, realizei vários sonhos de uma só vez. Conheci outro país, fui dirigido em outra língua, fiz amigos de diferentes regiões do mundo que me obrigaram a sambar e traduzir letras de funk, hahahaha, enfim, uma delícia.

7) Nós estamos no Brasil. Esta informação, por si só, já seria o suficiente para entender a pergunta que vem. Contudo, é necessário que expliquemos. O Brasil é um país racista, onde negros não possuem igualdade de oportunidade, fruto de um aparato histórico que é, talvez, uma mancha para a nossa nação. Você, no entanto, é um grande e brilhoso ponto fora da curva. Se sente na responsabilidade de mostrar para a nossa sociedade racista que todos nós podemos, desde que a oportunidade venha com igualdade?

Quero começar agradecendo por essa pergunta. Eu fui reconhecendo o que é ser negro no Brasil, a medida em que foram aparecendo os personagens dentro do meu ”perfil”, como num mês em que fiz teste para dois projetos completamente diferentes, e nos dois, tratava-se de um trombadinha, pivete. Eu percebi que estava condicionado a um esteriótipo completamente diferente do que eu realmente sou. 

Senti a virada quando no ano passado gravei a série de TV ”Um Morro do Barulho” a ser veiculada na TV Brasil, porém sem previsão de data para o lançamento. Mesmo com a série se passando numa comunidade periférica, os personagens fugiam de todos os esteriótipos que já estamos acostumados, e eu tive o prazer de viver um personagem em que a cor da pele não influenciava na personalidade ou no caráter dele. 

É isso que busco nos meus novos trabalhos, desconstruir ao máximo esse senso comum racista e preconceituoso que está intrínseco em nossa sociedade. Me sinto muito privilegiado só pelo fato de poder trabalhar com o aquilo que eu amo, mas não vou permitir que a minha cor seja um limitador da minha arte. É o que eu vivo dizendo para os meus amigos: eu quero empretecer tudo!


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