Diretor-geral da PF, Andrei Passos Rodrigues — Foto: Andressa Anholete/Agência Senado

MATÉRIA DO G1

O diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou nesta terça-feira (18) que o esquema de fraudes financeiras que resultou na prisão do presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, e de quatro diretores da instituição, pode chegar a R$ 12 bilhões.

Vorcaro e os diretores foram alvo de uma operação que mira a venda de títulos de crédito falsos. Há indícios de que o esquema teria a participação de dirigentes do Banco de Brasília (BRB) – que é um banco público do DF – por gestão fraudulenta da instituição. O BRB chegou a fechar um acordo para comprar o Banco Master em março, mas o negócio foi barrado pelo Banco Central.

“Estamos fazendo uma operação importante, com o Banco Central e Coaf atuando em conjunto, em um crime contra o sistema financeiro. Fala-se em R$ 12 bilhões envolvendo esse crime em investigação, com várias prisões. Nessa operação desta terça, a fraude é de R$ 12 bilhões”, afirmou Andrei durante participação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga organizações criminosas.

Pela investigação, há indícios de que “o BRB buscou amparar o Banco Master em sua crise de liquidez”. Segundo o documento, o BRB injetou R$ 16,7 bilhões no Master entre 2024 e 2025. Desses, pelo menos R$ 12,2 bilhões envolvem operações em que há fortes indícios de fraude.

🔎 O Banco Master emitia CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) com a promessa de pagar ao cliente juros acima das taxas do mercado e sem comprovar liquidez – ou seja, que conseguiria pagar esses títulos no futuro. Foram emitidos R$ 50 bilhões em CDBs, segundo investigadores.

💵 Nesse tipo de aplicação financeira, o cliente que compra os títulos empresta o dinheiro ao banco, que vai decidir em que vai investir, e recebe juros em troca.

Segundo um documento do Ministério Público Federal, obtido pela TV Globo:

  • para reforçar a impressão de liquidez, o Master aplicou parte do dinheiro dos CDBs em ativos que não existem, comprando créditos de uma empresa chamada Tirreno;
  • o Master não pagou nada por essa compra, mas logo em seguida vendeu esses mesmos créditos ao BRB – que pagou R$ 12,2 bilhões, sem documentação, para “socorrer” o caixa do Banco Master;
  • essas transações aconteceram no mesmo período em que o BRB tentava comprar o próprio Banco Master – e convencer os órgãos de fiscalização de que a transação era viável e não geraria risco aos acionistas do BRB, incluindo o governo do DF.

Ainda segundo Andrei Rodrigues, somente na casa de um dos alvos da operação Compliance Zero, os agentes encontraram R$ 1,6 milhão em espécie (veja na imagem abaixo).

“Eu não sei quanto que nós vamos conseguir bloquear. Eu sei já que, em dinheiro, apreendemos na residência de um investigado R$ 1,6 milhão em dinheiro nessa operação de hoje”, acrescentou o diretor na CPI do Crime Organizado.

Agente da PF conta dinheiro encontrado na casa de um dos dirigentes do Banco Master — Foto: Divulgação/PF

Agente da PF conta dinheiro encontrado na casa de um dos dirigentes do Banco Master — Foto: Divulgação/PF

Os outros diretores financeiros presos são: Luiz Antônio Bull, Alberto Felix de Oliveira Neto, Ângelo Antônio Ribeiro da Silva e Augusto Ferreira Lima.

Prisão de presidente do Banco Master

Na noite desta segunda-feira (17), a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro no aeroporto de Guarulhos (SP), durante a Operação Compliance Zero. Segundo os investigadores, ele estava em um jatinho com destino a Malta, tentando deixar o Brasil.

Seis dos sete mandados de prisão foram cumpridos, incluindo o de Vorcaro, além de 25 de busca e apreensão nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal.

Após a prisão, Daniel Vorcaro foi levado para a Superintendência da PF em São Paulo. Procuradas, a defesa dele e a assessoria do banco ainda não se manifestaram.

A prisão de Vorcaro aconteceu horas após o consórcio liderado pelo grupo de investimento Fictor Holding Financeira anunciar a compra do Banco Master — e cerca de dois meses após o Banco Central ter rejeitado a aquisição pelo BRB.

No entanto, ainda nesta terça, o BC determinou a liquidação extrajudicial do Banco Master. Na prática, a instituição avaliou que o banco não tem mais condições de funcionar e que as suas operações sejam encerradas. Isso também significa que a compra em curso é automaticamente interrompida.

O Banco Master já enfrentava risco de falência devido ao alto custo de captação e a investimentos considerados arriscados. Mas os negócios acabaram envolvidos em questionamentos, pressões políticas e falta de transparência.

São investigados crimes como gestão fraudulenta, gestão temerária, organização criminosa, entre outros.

Presidente do BRB afastado

Também nesta terça, Paulo Henrique Costa, presidente do Banco de Brasília (BRB), foi afastado do cargo por decisão judicial no âmbito da operação. O afastamento é pelo prazo de 60 dias, segundo o banco.

Paulo Henrique Costa está nos Estados Unidos, segundo informou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

Além de Paulo Henrique Costa, o diretor-executivo de finanças e controladoria do BRB, Dario Oswaldo Garcia Junior, também foi afastado do cargo.

Em nota, o BRB informou que “sempre atuou em conformidade com as normas de compliance e transparência, prestando regularmente informações ao Ministério Público Federal e ao Banco Central do Brasil sobre todas as operações relacionadas ao Banco Master”.

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