MATÉRIA DO G1
Que tal explorar alguns pontos assombrados de Belo Horizonte na noite de Halloween? Fantasmas e lendas urbanas são o tema da experiência “Almas de Minas”, especial de Dia das Bruxas, uma caminhada literária que visita as mais importantes assombrações de BH.
Durante quatro horas de caminhada, os participantes vão conhecer assombrações clássicas como a loira do Bonfim, a moça fantasma da Rua do Chumbo, o cego da Contorno e o capeta da Vilarinho. As histórias serão contadas por meio de “retratos falados” e outras interações.
A caminhada percorre cerca de três quilômetros na região central e inclui uma hora de parada num bar, com comida, bebida e mais histórias de assombrações.
Os criadores do Movimento BH a Pé, Rafael Sette Câmara e a jornalista de turismo e gastronomia Luísa Dalcin separaram algumas das melhores histórias de Belo Horizonte desde os tempos que a cidade ainda era Curral del-Rei.
Lembranças dos excluídos
Um fantasma icônico e assustador é o da lendária Maria Papuda, uma líder comunitária que morava onde hoje é o Palácio da Liberdade. Ela e os demais moradores foram expulsos de suas antigas casas pelos donos das construtoras, que começariam ali um projeto de nova capital. Depois de sua morte, Maria Papuda retorna ao Palácio como um espírito que se vingaria de líderes políticos.
“Essa população foi expulsa para ser colocada em outras regiões. Acho que esse processo de expulsão foi muito violento, e você tem ali a figura de uma líder comunitária. Reza a lenda que políticos, governadores, morriam durante o mandato. Alguns deles são João Pinheiro, Silviano Brandão, Raul Soares e Olegário Maciel”, contou Rafael Sette Câmara, ao g1.
Brandão faleceu durante o mandato, em 1902, já Pinheiro, dias antes de tomar posse como governador, em 1908. Maciel morreu no ano de 1933 durante o banho pela manhã, e Soares, de forma repentina, em 1924. Todos os quatro governadores perderam a vida no Palácio da Liberdade, antiga sede do Governo de Minas Gerais.
Para os criadores do BH a Pé, a caminhada de Halloween é uma forma de não deixar as histórias dos antigos moradores da capital mineira serem apagadas. Cada fantasma carrega uma luta social e política, seja por moradia, renda e por um espaço na nova Belo Horizonte.
“Eu nunca vi fantasma, mas acredito na existência deles. Os fantasmas de BH contam a história da cidade, e isso mostra como a ocupação de BH foi de dentro pra fora. As pessoas foram excluídas durante as construções”, disse Rafael.
Uma outra figura histórica é o Avantesma da Lagoinha, que costuma aparecer de madrugada, usando um terno preto e exalando um forte cheiro de enxofre. Reza a lenda que o homem veio para se vingar da segregação espacial causada pelo projeto de construção de Belo Horizonte.
O bairro Lagoinha acabou se tornando um abrigo para os moradores mais pobres que foram expulsos da região central para que os novos moradores ricos construíssem seus prédios e casas históricas.
“O que que representa mais os excluídos de Belo Horizonte que o Complexo da Lagoinha? Esse tenta se vingar das coisas que aconteceram com ele, provocando, por exemplo, acidentes de carro naquela região. É uma critica social”, afirmou.
Serviço
O passeio “Almas de Minas” inclui duas bebidas e petiscos no Boteco Nada Contra, na Rua dos Aimorés, e custa R$ 99. Serão dois grupos: 31/10 e 1º/11, quinta e sexta-feira, sempre às 19h.
As reservas devem ser feitas pela internet ou pela página do projeto BH a Pé.