Foto: Arquivo pessoal

MATÉRIA DO G1

Em meio à devastação causada pela inundação histórica em Porto Alegre, a cozinha de um restaurante refinado da capital, acostumada com os aromas de costelas assadas e tartares, hoje está voltada para a produção de papinhas destinadas a bebês que estão em abrigos da cidade rio grandense.

Com as enchentes que varreram o estado desde o começo do mês, mais de 140 pessoas morreram e mais de uma centena estava desaparecidas, segundo boletim divulgado pela Defesa Civil nesta terça-feira (14). Em todo o estado, cerca de 77 mil pessoas foram levadas para abrigos.

“Os primeiros relatos que a gente recebeu eram os de que muitas crianças pequenas estavam, fazia dois, três dias, à base de água, porque a comida que estava indo para os abrigos, em geral, não conseguiam ingerir”, contou o chef e proprietário do restaurante Capincho, Marcelo Schambeck, de 36 anos.

Bebês pequenos, com mais de seis meses, estão em plena introdução alimentar, e podem ter dificuldade de mastigar e ingerir alimentos com consistência mais sólida. “Está sendo feito [nos abrigos], por exemplo, arroz de linguiça, coisas muito pedaçudas, que é difícil [para os muito pequenos] comer. A gente soube que estavam dando arroz misturado com leite, coisas assim”, explicou Marcelo.

São produzidas e entregues cerca de 150 papinhas por dia. “A criança bem alimentada vai ter imunidade melhor, vai se acalmar mais. Criança com fome fica muito mais agitada”, disse Marcelo, que, junto com a esposa, também coordena uma cantina em uma escola particular da capital.

A receita das papinhas varia: moranga, abóbora, batata, mandioquinha, chuchu, carne, caldo de cogumelo — depende do que é encontrado na feira. Nesta etapa, a compra dos alimentos, outra frente também está sendo ajudada, a de produtores orgânicos afetados pela enchente.

Marcelo e outros donos de restaurantes estão priorizando a compra de pequenos agricultores, e também arrecadando recursos para auxiliar aqueles que perderam toda a produção.

Com estradas bloqueadas, agricultores que levavam cerca de 3 horas para chegar à capital agora levam até 10 horas, disse o chef.

Para auxiliar a chegada de insumos, a Prefeitura de Porto Alegre estruturou um acesso alternativo, chamado de corredor humanitário.

O restaurante de Marcelo está em um bairro que não foi afetado pela enchente, mas, assim como grande parte da cidade, está há mais de uma semana sem água. O local, que estava fechado, se prepara para reabrir, e a produção das papinhas será conciliada com a elaboração dos pratos.

Veículos de emergência transitam por corredor humanitário em Porto Alegre — Foto: Julio Ferreira/PMPA

Veículos de emergência transitam por corredor humanitário em Porto Alegre — Foto: Julio Ferreira/PMPA

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