MATÉRIA DO G1
No dia seguinte à remoção de 74 corpos da parte alta da Serra da Misericórdia, as ruas do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, amanheceram esvaziadas nesta quinta-feira (30) e com a população ainda com medo. Não se ouviram mais tiros desde a operação de terça (29).
Algumas áreas da comunidade estão sem luz, e a Light tenta reestabecer a energia. Pelo 3º dia seguido, escolas públicas não abriram. O comércio ensaiou uma reabertura, mas alguns mercados já registram desabastecimento, pois os caminhões de carga não estão entrando na comunidade — e não se sabe se tudo isso é cautela ou “luto” imposto pelo tráfico.
Nem todas as linhas de ônibus retomaram o itinerário por dentro da Penha. Postos de saúde, porém, voltaram ao atendimento normal.
Sem ocupação
A comunidade não está ocupada pelas forças de segurança. Os últimos a sair, na madrugada de quarta-feira (29), foram os militares do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Esses homens compuseram o que a PM chamou de “muro”, dentro da tática de encurralar traficantes na mata da Misericórdia.
Na Praça São Lucas, em cujo entorno se deixaram as dezenas de corpos do confronto, ainda se veem marcas de sangue. Mas as roupas dos mortos e panos, colchões e lonas usados para cobri-los já foram recolhidos.
Moradores relatam cenas de horror. “Eu moro aqui há 58 anos. Nunca vi isso. Vai ser difícil esquecer. Essa cena aqui, para mim, foi trágica”, disse uma moradora.
Outro comparou o cenário a uma catástrofe natural: “A cidade tá igual tragédia, como quando tem tsunami, terremoto, com corpo espalhado em cima do outro.”
Um morador da Vila Cruzeiro afirmou: “Na grande realidade, isso aqui é algo estarrecedor. Tô chocado. Nunca vi isso aqui na minha vida. O que a Vila Cruzeiro precisa é de educação”.

