Dólar — Foto: Freepik

MATÉRIA DO G1

O dólar opera em alta de 0,87% por volta das 12h20 desta quinta-feira (10), aos R$ 5,5509. O avanço da moeda vem após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciar tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto. Na máxima, a moeda americana chegou a R$ 5,6213.

Acompanhando a reação ruim dos mercados, o Ibovespa registra queda de 0,70%, aos 136.3524 pontos. As ações da Embraer, uma das empresas mais prejudicadas pelas tarifas de Trump, caíam mais de 8%.

Ao justificar a taxação, Trump citou Jair Bolsonaro e criticou o julgamento dele no STF, chamando o caso de “vergonha internacional”.

Especialistas no Brasil e no mundo destacaram o teor político da carta. “Não seria a primeira vez que os EUA usam a política tarifária para fins políticos”, disse o economista Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel.

Em resposta, o presidente Lula prometeu reagir com base na Lei da Reciprocidade Econômica. (leia mais)

▶️ Com o anúncio, o Brasil se tornou o país com a taxa mais alta entre as novas tarifas divulgadas pelo presidente americano. Desde segunda-feira, Trump tem enviado cartas a diversos líderes globais estabelecendo taxas mínimas para a negociação comercial. Até agora, 22 nações já foram comunicadas.

A situação preocupa o mercado financeiro devido à avaliação de que as tarifas podem elevar os preços ao consumidor e os custos de produção, o que tende a aumentar a inflação e forçar o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a manter os juros do país altos por mais tempo.

▶️ Na agenda econômica brasileira, o destaque do dia é a divulgação do IPCA de junho, que confirmou um novo estouro da meta de inflação do país. Houve uma alta de 0,24% em junho, acumulando 5,35% em 12 meses, bem acima do limite de 4,50%.

Assim, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, precisa divulgar uma nova carta aberta ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicando os motivos do estouro.

Tarifa de 50% sobre o Brasil

De acordo com a carta de Trump enviada nesta quarta-feira, a tarifa de 50% será aplicada sobre “todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os EUA, separada de todas as tarifas setoriais existentes”.

Produtos como o aço e o alumínio, por exemplo, já enfrentam tarifas de 50%, o que tem impactado diretamente a siderurgia brasileira.

Assim, a nova tarifa deve atingir em cheio outros setores estratégicos da economia nacional. A medida pode afetar diretamente itens como petróleo, aço, café e carne bovina, que lideram as exportações do Brasil para os Estados Unidos — o que pode também afetar grandes empresas brasileiras.

Um levantamento da XP Investimentos, por exemplo, mostra que a Embraer é uma das empresas da bolsa mais expostas ao tarifaço de Trump. A estimativa é que 23,8% de sua receita é proveniente das vendas que a companhia faz para os Estados Unidos.

Outras empresas potencialmente afetadas são Suzano (com 16,6% da receita proveniente de exportações aos EUA), Tupy (13,9%), Jalles Machado (11%), Frasle Mobility (10,8%), entre outras.

Além do teor político da carta, Trump também justificou a taxação como uma resposta às tarifas e barreiras comerciais impostas pelo Brasil, classificadas por ele como “injustas”.

O presidente americano disse que o comércio com o Brasil gera um déficit insustentável para os EUA, o que colocaria em risco a economia e a segurança nacional.

Apesar do argumento, dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que o Brasil tem registrado déficits comerciais seguidos com os EUA desde 2009 — ou seja, há 16 anos.

Resposta de Lula

Em resposta a Trump, Lula afirmou que o Brasil não aceitará ser tutelado por ninguém e que a elevação unilateral de tarifas sobre exportações brasileiras será respondida com base na Lei da Reciprocidade Econômica.

A lei, aprovada pelo Congresso quando Trump começou a impor tarifas extras a países de todo o mundo, prevê que o Brasil deve taxar quem também o taxa.

A carta de Trump, porém, também trouxe um alerta claro: se o Brasil reagir elevando suas próprias tarifas, os EUA aumentarão ainda mais as taxas sobre produtos brasileiros.

Por outro lado, Trump sugeriu que a tarifa poderia ser reduzida caso o Brasil abrisse seus mercados e eliminasse tarifas e barreiras comerciais.

Ele também afirmou que empresas brasileiras poderiam evitar a tarifa ao fabricar seus produtos diretamente nos Estados Unidos, prometendo agilizar os processos para viabilizar essa iniciativa.

Cartas a outros países

Desde o início da semana, Trump tem enviado cartas a líderes de diferentes nações, definindo tarifas mínimas para as negociações comerciais desses países com os EUA.

Na segunda-feira, por exemplo, 14 notificações foram enviadas, com alíquotas mínimas sobre produtos importados que variavam de 25% a 40% e têm vigência a partir de 1º de agosto.

A segunda leva de cartas foi enviada nesta quarta-feira (9). Ao todo, oito países foram notificados: Argélia, Brasil, Brunei, Filipinas, Iraque, Líbia, Moldávia e Sri Lanka.

As cartas seguem um padrão semelhante: Trump afirma que o gesto representa uma demonstração da “força e do compromisso” dos EUA com seus parceiros e destaca o interesse em manter as negociações, apesar do déficit comercial significativo.

  • 🔎 A volta das atenções de Trump para as tarifas reacende preocupações sobre eventuais efeitos dessas taxas na inflação dos EUA e do mundo. Isso porque a leitura dos investidores é que as taxas impostas por Trump podem acabar aumentando os custos de produção baseados em produtos importados e, consequentemente, elevar os preços ao consumidor.

Caso se concretize, esse cenário tende a pressionar a inflação norte-americana e pode forçar o Fed a manter os juros do país altos por mais tempo — o que, por sua vez, também poderia fortalecer o dólar e afetar as taxas de juros de outros países pelo mundo.

Os temores com as tarifas também acabaram mascarando o efeito positivo vindo pelo adiamento da retomada do tarifaço, anunciado por Trump na última segunda-feira. A nova data ficou para 1º de agosto.

A suspensão de 90 dias das tarifas impostas pelo republicano estava prestes a expirar nesta quarta-feira (9), e o baixo número de acordos firmados até o momento continuava a gerar preocupação.

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