PUBLICIDADE

A Escola de Samba Unidos do Rosário escolheu, para o Carnaval de 2026, o enredo “O Rosário sobe a Boa Vista em busca de Timbuctoo. A Nova Lima negra que a história não contou”. A proposta é revisitar e resgatar a memória de Timbuctoo, um antigo bairro negro localizado nas encostas do bairro Boa Vista, apagado da história oficial da cidade.

O nome pode ter sido inspirado na cidade de Timbuktu, no antigo Império do Mali, conhecido por seu desenvolvimento econômico e intelectual na África entre os séculos XIII e XVII. Em Nova Lima, registros do século XIX apontam que cerca de 1.690 pessoas negras foram escravizadas e levadas para trabalhar na mineração, especialmente na Mina de Morro Velho, sob domínio inglês.

O diplomata britânico Richard Burton, ao passar pela região então chamada de Congonhas de Sabará, descreveu Timbuctoo como o “mais alto bairro negro”, com características que remetem a aldeias africanas. Apesar da ausência de registros oficiais conclusivos, é certo que o local foi habitado por pessoas negras escravizadas, que ali construíram modos de vida, trabalho e resistência.

PUBLICIDADE

Inspirada pela leitura crítica da história proposta por intelectuais como Beatriz Nascimento, a agremiação assume o papel de quilombo moderno, trazendo à avenida a força ancestral da comunidade negra esquecida. Segundo a socióloga, quilombo não é apenas fuga, mas território simbólico onde se constroem solidariedade, cultura e identidade.

Ao apresentar Timbuctoo no carnaval, o Rosário reafirma a missão das escolas de samba como espaços de preservação da memória e recriação da resistência negra. O desfile promete ser um grito de existência de um povo que sempre esteve ali — mesmo que tentassem apagá-lo.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

error: O conteúdo está bloqueado. Entre em contato para solicitar o texto.