A presença de pessoas em situação de rua em Nova Lima tornou-se um tema inevitável e urgente. Não se trata apenas de um desafio social, mas de um espelho da forma como, enquanto sociedade, escolhemos enxergar — ou ignorar — a vulnerabilidade humana.
É verdade que parte da população se sente incomodada com os reflexos do problema: a ocupação de praças e calçadas, a insegurança, os relatos de importunação. Fingir que isso não existe seria tão irresponsável quanto criminalizar aqueles que vivem nas ruas, muitas vezes abandonados por todos. No entanto, é preciso afirmar com clareza: bater, hostilizar ou eliminar da paisagem urbana essas pessoas não é uma solução — é uma barbárie.
Mas tampouco podemos romantizar ou tratar o tema com indiferença. Há um limite entre a solidariedade e a permissividade que ignora a complexidade do problema. Muitas dessas pessoas enfrentam dependência química, transtornos mentais, rupturas familiares e ausência total de políticas públicas efetivas. É aí que o debate precisa se firmar: não sobre quem é o culpado, mas sobre o que faremos juntos.
A recente mobilização na Câmara de Nova Lima, com vereadores questionando o Executivo e visitando entidades sociais, mostra que o debate está em curso. E que bom que esteja. O desafio agora é manter esse debate elevado, longe da politização rasa e do oportunismo.
Nova Lima precisa, com urgência, de uma estratégia clara, humana e eficaz. Políticas públicas bem desenhadas, escuta ativa com a sociedade civil, parcerias com instituições e acolhimento digno são passos indispensáveis. A rua não pode ser o destino final de ninguém. Mas também não podemos permitir que a omissão seja o caminho escolhido por todos.
Renato Felipe é sócio-proprietário do Jornal Sempre Nova Lima, economista, jornalista, planejador financeiro, pós-graduado em Finanças e Controladoria.