Vivemos em um mundo onde guerras motivadas pela religião não são raridade. Pessoas matam, morrem, brigam e tentam impor sua forma de enxergar o mundo e a fé. Em uma sociedade verdadeiramente plural, não pode haver espaço para a intolerância. Uma sociedade rica, em qualquer sentido, é aquela que respeita o outro.
É alarmante a frequência com que vemos comentários intolerantes — especialmente contra religiões de matriz africana — em publicações do Jornal Sempre Nova Lima no Instagram. Quem nunca ouviu alguém associar o Espiritismo ou a Umbanda ao “demônio”? A intolerância está ao nosso redor, presente no nosso convívio diário.
A escola deveria ser um lugar onde se debate a intolerância — e todas as suas faces. Somos uma sociedade que mata mulheres, agride pessoas LGBTQIAPN+, briga por futebol, política, religião. Falta ensinar às nossas crianças valores como empatia, paciência e inteligência emocional. É assim que se constrói uma sociedade pautada na paz.
Neste contexto, discutir um projeto de lei que impõe exclusividade à Bíblia dentro de um ambiente escolar — que deveria, ao contrário, ampliar as visões de fé e de mundo — é reforçar o ciclo de enfrentamentos religiosos. Já se vê em grupos de WhatsApp e redes sociais discussões violentas sobre o tema.
E como fica a família que não crê na Bíblia? Vai ser obrigada a aceitá-la como leitura oficial, sob a força de um Estado que deveria ser laico? Em que momento o projeto do vereador Wesley de Jesus menciona outras expressões de fé como o Espiritismo, o Candomblé ou a Umbanda? Qual mensagem difundimos neste contexto?
Católicos e evangélicos nunca precisaram esconder sua fé por medo de agressão. Umbandistas, candomblecistas, sim. Isso diz muito.
Além de desperdiçar uma grande oportunidade de formar adultos mais educados e tolerantes, essa proposta desconsidera o que o Supremo Tribunal Federal já decidiu: é inconstitucional manter Bíblias em escolas ou bibliotecas públicas em detrimento de outras religiões. O Estado é laico.
Que a Bíblia seja respeitada, lida e estudada — nas igrejas, onde é seu local sagrado. Nas escolas, o que deve prevalecer é o programa do Ministério da Educação, autoridade máxima em educação no país.
A escola é lugar de aprendizado, não de imposição seletiva. E uma sociedade plural só se constrói com respeito à diversidade.