Imagem: Prefeitura de Nova Lima

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Nos últimos dias, a decisão da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) de suspender a execução do alargamento do viaduto sobre a BR-356, no trevo do BH Shopping, tem gerado intenso debate nas redes sociais.

A medida foi tomada após a pressão de moradores da região, já que parte da obra previa o alargamento também da via ao lado do BH Shopping, que dá acesso do bairro Belvedere às avenidas Nossa Senhora do Carmo e Raja Gabaglia, e provocaria o corte de cerca de 200 árvores.

A decisão dividiu opiniões: de um lado, quem comemora a suspensão pelos motivos ambientais; de outro, quem critica a interrupção de uma obra considerada essencial para melhorar o trânsito na região. Para entender melhor o que está por trás dessa história, o Sempre Nova Lima explica desde o início como essa obra foi pensada, o que está em jogo e quais os próximos passos.

O início da parceria entre BH e Nova Lima

No dia 4 de março de 2024, as prefeituras de Belo Horizonte e Nova Lima anunciaram uma parceria para a realização de um conjunto de obras viárias, com o objetivo de melhorar o trânsito na região limítrofe entre os dois municípios. Ao todo, estão previstas quatro intervenções estratégicas.

A primeira delas, sob responsabilidade da Prefeitura de Nova Lima, é a construção de um viaduto em formato de “ferradura”. O investimento é de cerca de R$ 60 milhões. Os valores serão custeados com recursos decorrentes do decreto de contrapartidas urbanísticas de empreendimentos aprovados pela Prefeitura de Nova Lima.

Paralelamente, caberia à Prefeitura de Belo Horizonte executar o alargamento do viaduto sobre a BR-356, possibilitando a criação de uma terceira faixa de rolamento no sentido Belvedere-Santa Lúcia, além de realizar ajustes nas alças existentes. Como já mencionado, essa etapa teve recentemente a execução suspensa pela PBH.

Além dessa obra, a capital mineira também será responsável por implantar um viaduto, que facilitará o acesso direto do tráfego proveniente da BR-356 (sentido Belo Horizonte-Rio de Janeiro) à MG-030 (sentido Belo Horizonte – Nova Lima), eliminando a necessidade de utilizar o Trevo BR-356/Avenida Raja Gabaglia.

Já a quarta intervenção ficará a cargo de Nova Lima, que construirá um viaduto para alargar a pista de rolamento da MG-030 sob o viaduto da linha férrea e da alça de ligação da BR-356 com a MG-030, no sentido Nova Lima.

A MG-030, entre Belo Horizonte e Nova Lima, registra um fluxo diário de cerca de 15 mil veículos. A maioria deles (aproximadamente 12 mil) são carros de passeio, seguidos por 2 mil motocicletas. O restante é composto por caminhões e veículos de médio porte.

Na época, o então prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman (PSD), afirmou que as melhorias previstas no pacote de obras iriam garantir mais fluidez ao tráfego na região. “Estudos preliminares mostram que as pessoas vão gastar de 40% a 50% menos tempo nesse deslocamento”, disse.

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Viaduto de “ferradura” teve projeto barrado pelo IEF

Antes mesmo da polêmica envolvendo o alargamento do viaduto sobre a BR-356, o pacote de obras viárias entre Belo Horizonte e Nova Lima já havia enfrentado obstáculos. Em junho de 2024, o início da primeira etapa precisou ser adiado após a identificação de um erro no projeto, que previa intervenções dentro da área da Estação Ecológica do Cercadinho, uma Unidade de Conservação do Estado.

A falha foi apontada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), que barrou o avanço das obras. Essa etapa consistia na construção do viaduto em formato de “ferradura” para a ligação da MG-030 à BR-356, no sentido Rio de Janeiro, com a inclusão de uma faixa adicional na BR-356. A intervenção é de responsabilidade da Prefeitura de Nova Lima.

Na ocasião, a Prefeitura de Nova Lima informou que o projeto da obra em formato de “ferradura” estava sendo adequado conforme as exigências do IEF. Segundo a administração municipal, a interpretação inicial era de que a área desafetada na Estação Ecológica do Cercadinho, com base em um projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, contemplava toda a faixa necessária para as obras. No entanto, após reuniões técnicas de trabalho, o IEF identificou a necessidade de realizar ajustes adicionais.

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Pressão de moradores leva PBH a suspender alargamento do viaduto sobre a BR-356

Como mencionado anteriormente, o alargamento do viaduto sobre a BR-356, no trevo do BH Shopping, teve a execução suspensa pela Prefeitura de Belo Horizonte após manifestações contrárias ao projeto vindas de moradores da região. Segundo a PBH, a medida atendeu aos pedidos da população pela preservação da cortina verde de proteção entre a via e a Praça da Lagoa Seca, no sentido da avenida Raja Gabaglia. Os moradores alegaram que a expansão da pista causaria a supressão da vegetação no local.

“A população se inteirou do projeto e questionou junto ao Ministério Público, com razão, o corte de quase 200 árvores. A prefeitura ouviu a população, ouviu o Ministério Público e fez uma reavaliação do projeto, da real necessidade, neste momento, de se executar o alargamento da pista, que ia ocasionar a supressão de mais de 200 árvores”, explicou o superintendente de Desenvolvimento da capital (Sudecap), Leonardo Gomes.

Para a Itatiaia, o presidente da Associação de Amigos do Belvedere, Ubirajara Gomes, afirmou que, além do corte das árvores, o alargamento não seria suficiente para desafogar o trânsito na região. “Eles (prefeitura) avaliaram que arrancar as árvores não vai resolver o problema. Vão chegar cinco carros, só passam três. Hoje, chegam quatro, só passam dois. Então, vai continuar da mesma forma, com intensidade muito maior e vai aumentar o congestionamento”, explicou.

Desistência de licitação

Segundo Leonardo Gomes, a BHTrans realizou um estudo de viabilidade e não viu a necessidade da construção de uma nova faixa de rolamento. Assim, com a exclusão de parte das intervenções previstas inicialmente, a Prefeitura de Belo Horizonte precisou adequar o projeto original.

A mudança fez com que a empresa vencedora da licitação decidisse desistir do contrato. De tal maneira, a PBH retirou os tapumes instalados no local e anunciou que abrirá uma nova licitação, agora apenas para a execução do alargamento do viaduto.

“Considerando que a mudança vai reduzir o escopo da obra, a empresa contratada manifestou não ter mais interesse em executar o contrato. Diante disso, a Prefeitura irá fazer uma nova licitação para executar as obras”, informou a PBH.

Ainda de acordo com a PBH, apesar da necessidade de um novo processo licitatório, a previsão de início das obras segue mantida para julho, com conclusão prevista para o segundo semestre de 2026.

Abaixo-assinado cobra retomada das obras

Apesar das manifestações contrárias, também há uma forte mobilização em apoio à retomada das obras. Um abaixo-assinado criado por José Eugênio, presidente da Associação dos Moradores do Bairro Belvedere (AMBB), já reúne mais de 5 mil assinaturas.

O documento defende que a suspensão das intervenções prejudica não apenas os moradores do Belvedere, mas também milhares de pessoas que passam diariamente pela região, incluindo moradores de municípios vizinhos como Nova Lima, Rio Acima e Raposos.

“A decisão da PBH de retirada dos tapumes do viaduto, entre a Av. N. Sra. do Carmo e Av. Raja Gabaglia, para cancelamento de parte das obras, não pode ser embasada no pleito de 200 moradores”, afirma.

O abaixo-assinado defende que as obras são essenciais para melhorar o fluxo de trânsito em uma das áreas mais movimentadas da cidade.

Câmara de Vereadores de Belo Horizonte discute o tema

O tema também chegou à Câmara Municipal de Belo Horizonte. Na última quinta-feira, dia 3, a situação foi discutida em audiência pública presidida pela vereadora Fernanda Pereira Altoé (Novo). Durante a reunião, a parlamentar elevou o tom nas cobranças por uma solução viária para a região.

“São problemas antigos, que precisam de soluções urgentes. E a gente continua no mesmo lugar ano após ano. Parece que a prefeitura recuou em função de interesses dos moradores da região. Falou-se muito numa reunião que aconteceu na Lagoa Seca com 200 moradores. Será que esse é um número de pessoas representativo para recuar numa obra que é muito importante para a saúde das pessoas e que impacta Belo Horizonte inteira? De que adianta ampliar o viaduto se todo o problema do trânsito começa ali para trás, ao lado do BH2 Mall (centro comercial)? As pessoas vão continuar paradas. E aí, alguma solução tem que ter”, cobrou.

Posicionamento da Prefeitura de Nova Lima

Em nota, a Prefeitura de Nova Lima se posicionou sobre o assunto, ressaltando que, das quatro intervenções viárias previstas, duas são de responsabilidade de cada município. A administração destacou que as obras não são interligadas, o que garante autonomia para que cada cidade conduza seus respectivos projetos de forma independente.

Ainda segundo a nota, a Prefeitura de Nova Lima afirma confiar na capacidade da gestão de Belo Horizonte para resolver a situação com agilidade e reforçou que o diálogo entre os dois municípios permanece ativo.

Leia a nota:

A Prefeitura de Nova Lima reafirma seu compromisso com as obras na divisa entre Nova Lima e Belo Horizonte, que são fruto de uma parceria entre os municípios. Cada cidade é responsável por duas intervenções, e elas não estão atreladas entre si, garantindo a autonomia de cada administração na execução dos seus respectivos projetos.

O prefeito João Marcelo Dieguez destaca que não cabe a ele avaliar a decisão do prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião, já que cada gestor lida com suas próprias circunstâncias. Ele reconhece os desafios enfrentados pela Prefeitura de Belo Horizonte, especialmente após o afastamento e posterior falecimento do prefeito Fuad Noman, destacando ainda que acredita que a obra sob responsabilidade de BH será retomada com agilidade. Além disso, reitera a relação de diálogo e respeito entre os municípios.

A Prefeitura de Nova Lima não foi oficialmente comunicada sobre a paralisação da obra em Belo Horizonte, tendo tomado conhecimento apenas por meio da imprensa. No entanto, segue avançando com seus próprios projetos. O foco, neste momento, está no início da obra do Viaduto Ferradura, que já possui todas as autorizações necessárias e aguarda apenas o aval do Ministério Público para ter início.

Próximos passos

Enquanto a Prefeitura de Belo Horizonte se prepara para relançar a licitação, moradores e autoridades seguem divididos quanto ao futuro das intervenções na região. Com os prazos mantidos para o início em julho e conclusão em 2026, os próximos meses devem ser decisivos para o destino das obras que prometem transformar um dos pontos mais críticos da mobilidade metropolitana.

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