Pela primeira vez o 20 de novembro será feriado nacional; mas essa é uma data de luta e não de descanso. O Dia da Consciência Negra homenageia Zumbi dos Palmares, um dos líderes da resistência negra à escravidão, e convida à reflexão sobre a luta do combate ao racismo.
Em Nova Lima, onde a população é majoritariamente negra, o cenário reforça a necessidade de ações urgentes para o combate às desigualdades históricas. A Mina Grande, no centro da cidade, é um cemitério de homens, mulheres e crianças negras que construíram a cidade com suor, sangue e alma. Apesar de particular, esse terreno é patrimônio do povo nova-limense e agora está nas mãos da especulação imobiliária, por meio da OUC Nova Vila, que vai arrastar a população pobre na região central do município para as periferias.
Outra consequência atual da escravidão em Nova Lima: a maioria das pessoas que não tem casas para morar são pretas e pardas. O racismo afeta economicamente as pessoas negras, mas também de forma subjetiva: quem te ensinou a odiar cabelo crespo? No navio negreiro os cabelos de homens e mulheres eram raspados e depois essa prática se tornou instrumento de tortura e desumanização. Quantas gerações foram necessárias para os homens negros aderirem novos cortes de cabelo que não o raspado?
Mais que reforçar a identidade negra, o 20 de novembro convida as pessoas não-negras a refletirem sobre os privilégios herdados de seus antepassados e os danos causados também por eles. A escravidão foi e é um crime, que está no rol dos crimes contra a humanidade, mas até quando reverenciaremos ingleses escravagistas criminosos? É importante que o Estado – com o seu poder financeiro e estrutural – construa políticas públicas estruturantes, mas é também responsabilidade de cada cidadão fortalecer o combate ao racismo; violência que afeta negativamente toda sociedade.
Nós somos o Terreiro de Pai Benedito de Aruanda. Território de resistência, sobrevivência e preservação dos saberes e fazeres ancestrais de um povo.