De: Revista Veja
O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, foi afastado do cargo nesta sexta-feira, 28, por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por irregularidades em contratos na área da Saúde. A operação, batizada de Tris in Idem, é um desdobramento de outras duas ações do Ministério Público Federal e da Polícia Federal: a Favorito e Placebo. O vice Cláudio Castro assume.
O STJ também expediu mandados de prisão contra o Pastor Everaldo Dias Pereira, presidente do PSC, partido de Witzel e Castro, além de Lucas Tristão, ex-secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais.
Witzel foi notificado sobre o afastamento no Palácio dos Laranjeiras. O afastamento vale por 180 dias. A primeira-dama Helena e André Ceciliano (PT), presidente na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), são alvos de buscas. Policiais federais estiveram na sede administrativa da Casa, na Rua da Alfandega, no Centro da capital, próximo do Palácio Tiradentes.
Roberto Podval, advogado de Wilson Witzel, criticou decisão: “O ministro Benedito (Gonçalves) desrespeita democracia, afasta governador sem sequer ouvi-lo e veda acesso aos autos para defesa. Não se esperava tais atitudes de um ministro do STJ em plena democracia”, disse em entrevista a VEJA.
Witzel e mais oito pessoas, incluindo Helena, também foram denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por corrupção. Mas não há ordem de prisão para o governador. No total, são 17 mandados de prisão, sendo 6 preventivas e 11 temporárias, e 72 de busca e apreensão.
Além de pastor Everaldo e Tristão, está preso Sebastião Gothardo Netto, médico e ex-prefeito de Volta Redonda. Os outros alvos de busca e apreensão são o vice Cláudio Castro e o desembargador Marcos Pinto da Cruz.
Em delação ao Ministério Público Federal, Edmar Santos, ex-secretário estadual de Saúde, disse ter sido ameaçado dentro da cadeia por um tenente da Polícia Militar para que ele trocasse de advogado. Edmar contou aos procuradores ainda acreditar que isso teria sido um aceno de apoio financeiro do grupo do pastor Everaldo e do empresário Edson Torres, braço-direito e operador financeiro do presidente do PSC. Os dois foram citados pelo ex-secretário como influentes no governo Wilson Witzel, inclusive dentro da Secretaria estadual de Saúde. Edmar ficou preso no Batalhão Especial Prisional (BEP), em Niterói, na Região Metropolitana, porque é coronel da PM.
Everaldo foi o responsável por abrir as portas do PSC a Witzel, em 2018, quando o então candidato e ex-juiz federal registrava só 1% nas pesquisas de intenções de votos. Os laços de ambos, porém, começaram em 2017. Naquele ano, Witzel buscava um partido para ser candidato ao governo do Rio. À época, Everaldo negociava um acordo para apoiar o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), derrotado no segundo turno por Witzel. O chefão do PSC, então, embarcou no projeto. Com a vitória de Witzel, Everaldo ganhou uma espécie de cheque em branco no Poder Executivo. Indicou até o próprio filho, Filipe Pereira, para ser assessor especial do governador e assumiu coordenação da pré-campanha de Witzel à Presidência da República, em 2022.Continua após a publicidade
Dentro do governo, pastor Everaldo disputava poder com Lucas Tristão, ex-secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais. Tristão é amigo e advogou para o empresário Mário Peixoto, preso na Operação Favorito. Segundo as investigações do Ministério Público, Peixoto seria o principal fornecedor de serviços de mãos-de-obra terceirizada no governo do estado.
Alvo de um processo de impeachment na Alerj, Witzel é investigado pela Procuradoria Geral da República (PGR). O governador, no entanto, sempre negou qualquer participação no desvio de dinheiro público em meio à pandemia. Witzel e a primeira-dama Helena foram alvos de busca e apreensão na Operação Placebo, ação do Ministério Público Federal e da Polícia Federal que vinculou Wilson Witzel a fraudes na construção de hospitais de campanha para tratamento de pacientes com coronavírus. Além das operações Placebo e Favorito, o governo do Rio foi alvo da Mercadores do Caos, do MP fluminense, que prendeu Edmar Santos e Gabriell Neves, ex-subsecretário executivo de Saúde.
08h:19: Matéria atualizada com novas informações.