Reprodução/Rede Social/Facebook

O Sempre Nova Lima conversou com Delatorvi, um rapper nova-limense que tem feito sucesso com suas músicas. Ele que se declara “compositor de músicas negras”, tem a opinião bem forte sobre derivados assuntos e não tem receio de expor suas ideias nas redes sociais.

Ele que tem 23 anos e nasceu no Bairro Cristais, próximo a um local chamado “Bomba”, se diz “polêmico” e pensa que Nova Lima “bloqueia o impulsionamento ritmos populares de arte negra tais como o rap e funk”. 



Inclusive, ele falou da importância do rap em mostrar para a sociedade a “realidade urbana” e “expõe o estado desigual”. Veja a nossa conversa com o rapper:

1) Vitor, obrigado por falar com o Sempre. Conte-nos mais sobre sua carreira? 


Eu é quem agradeço pelo convite, Renato (jornalista que entrevistou). Salve. Deus abençoe a todos. Bom, sou um compositor de música negra, nascido no bairro Cristais (Bomba), tenho 23 anos e faço rap há pelo menos quatro anos. Lancei meu primeiro trabalho de estúdio em 2015 e minha primeira “mixtape” no ano passado. Nesse ano de 2017, lancei meu primeiro disco oficial: Um EP colaborativo com o beatmaker LR Beats, de São Paulo, intitulado “A Vida De Emmett Till”.


2) Nova Lima sente a falta da promoção da cultura. Você que é um formador de opinião e carrega consigo vários seguidores, qual a crítica que faz sobre esse assunto?


Bom, é mais uma questão coletiva do que pessoal, mas vou dar minha opinião pessoal, porque né, sou polêmico, como dizem (risos). Acho que Nova Lima tem vários artistas das mais diversas vertentes. O grande problema é que a escolha de dar oportunidade para os mesmos de forma igualitária, acaba sendo elitista e política. E como sabemos, pelo próprio histórico: Nova Lima é uma das cidades que mais bloqueia o impulsionamento ritmos populares de arte negra tais como o rap e funk, mesmo eles sendo tão populares quanto o sertanejo e o pagode, por exemplo, que são músicas menos questionadoras com relação a críticas sócio políticas. 


Já no lado teatral e de danças, também não vejo incentivo ao pessoal mais jovem, a não ser com coletivos independentes e talentosas, que querendo ou não, precisam de uma ajuda da Prefeitura para darem continuidade em seus trabalhos. Algo que não acontece de forma obrigatória. A Prefeitura não se sente pressionada, por isso exerce as funções culturais como quer.


3) Você acredita que a sua letra é importante para a sociedade? Se sim, por quê?


Na verdade, acredito que não somente a minha, mas a manifestação lírica do rap é importante para a sociedade num todo, por ser um dos ritmos que mais retrata a realidade urbana e expõe o estado desigual, racista e silenciado em que vivemos hoje. É uma quebra de tabus necessária: Perder o medo de falar.


4) A música e as letras é a forma mais genuína cujo a qual você tem de se expressar para a sociedade?


A música, consequentemente com o exercício de composição, são a minha válvula de escape. Agradeço pelo privilégio de conseguir evoluir minha arte cada dia mais, permitindo expandir o acesso a informação via analogias recitadas ou cantadas.


5) Diante de uma sociedade conservadora, quão difícil é alavancar sua carreira diante de um país ainda arcaico?


A dificuldade maior é: viver numa linha tênue entre fingir que está tudo bem e desenvolver meu trabalho no lado financeiro mais rapidamente ou nadar contra a corrente e focar em escrever aquilo que acho que seja necessário para trazer a construção de identidade das pessoas que estão ouvindo. Então, cada um faz sua escolha pessoal. Eu escolhi o caminho mais difícil. E sinceramente? Me sinto forte.


6) Há uma discussão que até perdeu força, mas ainda está vigente: sobre proibir o funk. Perder essa identidade cultural não é no mínimo um contra-senso?


Essa ideia de proibicionismo já existe há tempos. Ocorreu o mesmo com o samba em tempos de ditadura, por exemplo. Sabemos que toda arte negra e de certa forma um pouco anarquista acaba sendo demonizada. É assim com as religiões de matrizes africana desde sempre, com o rap no início dos anos 90 e com o funk. Mesmo sendo os estilosos musicais e a vertente de religiosidade que mais identifica o real povo afro-brasileiro. 


Infelizmente, ainda vivemos num mundo branco impondo o pensamento padrão europeu, em cima de homens e mulheres negras. A cara do Brasil colonizado, não? Te lembra algo? Não existe liberdade. Nunca existiu. A liberdade tem de ser conquistada todos os dias. Via combate e resistência.



7) Para terminar, nos diga mais sobre seus próximos compromissos e novidades na carreira?

Bom, como eu havia dito no começo da entrevista. Esse ano, mais precisamente no mês passado lancei meu disco “A Vida De Emmett Till”, que é de um ritmo que vem criando uma crescente no Brasil, o TRAP music. Espero conseguir rodar vários estados com esse projeto, que foi muito bem produzido, mesmo eu não tendo capital nenhum para girá-lo mercadologicamente, obtive retornos positivos nas plataformas de stream, que a internet proporciona. 


Atingi mais de 100 mil visualizações com meus projetos no Youtube e pelo menos 70 mil plays no Spotify. Gostei da ideia de ser um “trapstar” e estou dando continuidade desse sonho. Não espero muita coisa vindo da minha cidade, mas espero muita coisa vindo da cultura hip-hop, que não vai parar de se desenvolver mercadologicamente e muito menos, ideologicamente. Um salve a todos que fazem acontecer em Nova Lima. Ao selo “AnteHype Music”, do qual me tornei parte esse ano e ao “PXSSE”, do qual serei para a vida toda. Acreditem no poder da originalidade negra. É isso.


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